terça-feira, 22 de julho de 2014

Voando na água. Instrutora de mergulho adaptado fala sobre o esporte e a pessoa com deficiência




Irene, sentada à frente, observa ação de instrutores de mergulho  em
Curso de Mergulho adaptado.



Entrei no mundo do mergulho por acaso, no fim da faculdade de Ciências Biológicas quando fui trabalhar em uma escola de mergulho e nunca mais deixei a água. Enquanto ainda trabalhava na área administrativa comecei a mergulhar e fui me especializando. Mergulhar é uma experiência incrível! Explorar outra densidade, descobrir como  podemos nos habituar no meio líquido, ter o silêncio quebrado pelo barulho das bolhas se soltando, da respiração lenta. Tudo é mais lento, mais relaxante, a sensação de estar neutro no meio da coluna d’água, onde você não toca o fundo e tampouco está na superfície. Tudo provoca uma sensação de estarmos voando. Voando na companhia dos peixes.

Quando voltamos de um mergulho o que mais queremos é partilhar com outros mergulhadores o que vimos e sentimos durante o mergulho. E é nessa interação toda que várias tribos diferentes se juntam para curtir e fugir do ritmo frenético do dia a dia. Encontramos desde ‘bicho-grilos’ que buscam sempre estar em contato com a natureza até os ‘workaholics’ que encontram no mergulho uma válvula de escape para recarregar as energias. E todas elas conversando e trocando experiências e descobrindo através do mergulho que existem muito mais em comum do que se imaginava.

Além da vontade de dividir as experiências, o mergulho traz na sua concepção outros fatores que aproximam as pessoas. No mergulho autônomo recreativo, aquele que usamos um cilindro nas costas, há uma regra que não se pode mergulhar sozinho, sempre se mergulha em duplas ou em trios. Desde o começo do aprendizado do mergulho, a cooperação é enfatizada, a troca e o cuidado com o outro, o espírito de equipe. E é nesse meio, mergulhadores com e sem deficiência tem a liberdade de interagir no espírito de equipe.

A deficiência física, por exemplo, por si, não é impedimento para o mergulho, existem algumas condições que podem estar associadas à deficiência que podem restringir temporariamente ou mesmo impedir definitivamente a prática do mergulho. Quando não houver as condições médicas restritivas, o mergulho adaptado é uma opção que respeita a individualidade do mergulhador com deficiência. Para a segurança do candidato é recomendado que ele faça uma avaliação clínica com um médico familiarizado com mergulho e será necessária a apresentação do laudo médico descrevendo o quadro de sua deficiência. 

Há alguns anos acompanho o trabalho de mergulho adaptado da HSA (Handicapped Scuba Association - www.hsascuba.com). Mesmo antes de começar a me profissionalizar já tinha muita vontade de seguir o caminho da HSA e após 7 anos nesse meio, finalmente em 2013 conclui meu treinamento como instrutora de mergulho adaptado. A HSA é uma certificadora de mergulho adaptado que oferece cursos delineados para acomodar uma ampla variedade de pessoas com deficiência e ao mesmo tempo manter um alto nível de práticas de mergulho com segurança.

Irene Demetrescu vive em Campinas, é mergulhadora e instrutura de mergulho adaptado.

Irene Demetrescu
Instrutora de Mergulho Adaptado HSA
Instrutora de Mergulho PADI
Instrutora de Primeiros Socorros EFR
Vice Presidente da DAN Brasil

Foto divulgação. Mergulho adaptado no fundo do mar.
Dois mergulhadores (Will dando apoio pelo cilindro a Adriana que tem tetra paresia) olhando para um coral nas águas crsitalinas de Bonaire no Caribe



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